terça-feira, 27 de setembro de 2011

Agosto Eterno

... foi tudo o que restou – casa de marimbondo: desabitada. O pé de pau-terra acapelado de flores amarelas abaulava, das vespas, a casa agora em ruínas. Não era primavera. Quem disse? Haverá sempre primavera para fazer o pau-terra sorrir com dentes de frágeis pétalas, cujo riso adorna o cerrado, em tardes cinzentas de um agosto eterno.

Desajeitada postura arbórea, sobre gramíneas incineradas. Antipático, inculto, feio e insolente... Pau. Caule retorcido, hostil, áspero, soturno, deselegante... Terra. Ali, em sua razão de ser tão somente uma árvore capaz de manter a calma quando tudo em seu redor está debaixo de cinzas.

Deveria o pau-terra sentir-se culpado, por acreditar em si mesmo, enquanto não há mais razões para acreditar em coisa alguma? Deveria mentir para os mentirosos que não está feliz por não cair em desgraça? A Desgraça e o fortúnio: dois impostores, tratados com indiferença pelo cerrado. Indiferente a dor de ver, mudado por armadilhas, o retrato da vida que cedo ou tarde iria “senescer”.

Que fosse tarde, então! E que fosse longo esse tardar. Porém, “tarde” foi interrompida na hora quinze e o cerrado resignou-se a viver morrendo... Não diz nada e volta sempre ao ponto de partida forçando a própria natureza a pulsar o coração, nervos, músculos: todas as sobras que lhe restam, a persistirem. Mesmo que exausto, mesmo que em chamas, brasas ou cinzas, sua ambição ordena: persiste!

O vento faz riscos no que restou das gramíneas e rodopia saltitante construindo veredas sobre as cinzas do cerrado. Depois beija as flores da gomeira, outrossim: pau-terra, e segue levando consigo aquele perfume. E segue... segue... segue... Segue espalhando o cheiro das delicadas flores amarelas às narinas das vespas.

... e as vespas voaram a caminho das flores, entorpecidas por causa da indiscrição do vento. Ainda bem! Sobe e desce... sobedesce... sobedesce... Sobe e desce das vespas por traços imagináveis que desenham ondas no oxiGênio do cerrado. E a vida segue... E o cerrado renasce: casa de marimbondo habitada. Até quando? Por Cristo! Até quando?
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