Eram três horas da tarde. Eu ali na janela, e ele me olhava... Me olhava, me olhava... De um jeito...!
Olhava com aqueles olhos verdes. Olhar verde, não aguento. Não aguento de jeito algum.
Você está rindo? Ria de mim não! Porque, se ele lhe olhasse do jeito que olhou pra mim, você não estaria sorrindo assim, com sarcasmo. Não estaria mesmo!
Eu, ali debruçada no parapeito da janela, tal qual uma namoradeira, e ele me olhando. Olhando-me com os olhos verdes. Verde, como verde é o lodo das pedras em tempos de chuva.
Ah! Eu não aguento...! Olhar-me com olhos verdes? Com os olhos verdes? Já disse... Não aguento não.
Eu sei que você acha graça, dessa minha cara cheia de dentes... Até meus olhos estão cheios de dentes. Fica rindo de mim, porque eu estou mostrando os dentes com olhos? Mas se ele tivesse lhe olhado, com aquele olhar verde, verde, verdinho... Você seria uma pessoa toda dente. Todos os seus sentidos, agorinha mesmo, seriam dentes: uma dentadura ambulante.
Deve ser por isso que uma caveira parece estar sempre sorrindo debochada. Deve ter recebido esse olhar verde mimoso antes do suspiro final. Ah! Meu Deus...! Que olhar mais cheio de: “leva eu todinho pra você!” Aguento Nem!!!
Eu saí do parapeito da janela, e ele continuou me olhando verde. Por que eu não o mandei parar? Eu devia? Devia, mas não mandei. Queria ver se fosse com você... Você mandaria parar? Duvido que mandaria.
Depois, eu tentei disfarçar, para não deixá-lo pensando que eu estava à mercê de seus olhos verdes. Olhei para o teto, balbuciei algumas palavras cantaroladas, olhei no relógio de pulso, depois virei de costas para ele.
Minha nossa! Que sensação estranha! Sentia que ele ainda me olhava. O calor daqueles olhos verdes me escaneava inteira e eu me senti nua, e nua comecei a serpentear lentamente por uma estradinha, que me levaria para longe daquele olhar verde.
Você acha que eu não devia ter fugido? Sei não!? Ficar e olhar para ele? Meu olhar de burro fujão, olhando o olhar verde dele? Assim, cara a cara? Vixe Maria! Não aguento não!
Eu confesso que dei uma olhadinha... Uma olhadinha de soslaio. Mas eu juro, foi apenas para me certificar de quem eram os olhos verdes que despiam a minha pele e dilacerava a minha alma.
De soslaio, rapidinho...
Você não para mesmo de rir... Você o olharia de frente? Ah, não! Eu não tenho essa ousadia toda. Eu não daria o braço a torcer, mesmo porque desde o primeiro flash de olhar, eu já sabia que ele venceria a guerra. Vê se pode! Nunca, nesse mundo eu resistiria ao magnetismo verde esmeralda daqueles olhos. Você resistiria?
Como eu contava... Fui serpenteando pela estradinha. Tento ignorar as razões que me fizeram sair de casa naquele dia. Mas elas se autojustificam. Lembro-me que eu estava debruçada na janela... Ele passou na rua e flertou comigo. Depois se sentou num canto da praça... Num cantinho de frente à minha janela e continuou me olhando. Em seguida, eu virei de costas para a rua, e senti que ele ainda me olhava...
Então...?
Então eu saí de casa para serpentear na estradinha, sabendo muito bem que ele estava me olhando. Sabendo que eu não resistiria. Bem feito pra mim, pois se eu tivesse fechado a janela, trancado a porta, ligado a TV e comido uma barra inteira de chocolate, não teria me apaixonado por aquele par de olhos verdes que ostenta um corpo muito robusto e vestido de pele alva.
Aproximei-me. Ele parecia fadigado. Olhei em volta da praça e havia pessoas a nos observar. Alguns seguravam pedras, e outros pedaços de paus. Ele seria linchado em público só por ter me olhado verde?
Cheguei mais perto, sem dizer coisa alguma e abracei o mini exemplar Red Noseda indústria “American Pit Bull Terrier”, e o levei para casa. Depois disso, deixei de receber visitas.
Heheheh! Bom dia, Clara! Já tinha lido esta crônica, você me mandou há algum tempo. Mesmo assim, foi ótimo relê-la. É sempre um prazer ler suas crônicas!
ResponderExcluirLINDA HÍSTORIA DE AMOR...MESMO A MAIS FEROZ DAS FERAS RENDE-SE AO AMOR QUE VEM COMO UM CLARÃO...AINDA MAIS SENDO CUIDADA POR CLARA DAWN...BJSSS POÉTICOS !!!
ResponderExcluirBom dia minha linda você sempre nós fasendo viajar nas fantazias imaginarias possivéis ..lindo demais ler seu trabalho e sempre um prazer enorme ...eijos cariosos .
ResponderExcluir"De início, fico na impressão de se tratar de um amor seu, mas imediatamente me disponho a não cair na sua armadilha! E os olhos verdes remeteram-me de imediato ao verde daquele seu papagaio de outra crônica. Fiquei entre achar que se tratava de um homem ou de um bicho, você que parece gostar tanto destes. E daqueles, também, claro!
ResponderExcluirMas conforme a leitura avançava, fui me convencendo de que se tratava de um macho da espécie humana. Você soube me despistar, eu que já me encontrava na pista certa. Coisa de escritora que sabe o que faz. E quando você disse que ele se sentou num canto da praça, visualizei a imagem de um sujeito de pele clara e olhos verdes sentado no banco da tal praça, sem que me ocorresse que ele estar sentado no canto da praça não quer dizer, necessariamente, que ele está sentado num banco! Caramba, você me pegou, no final das contas. Parabéns!
No fim, não era um papagaio, nem um homem, mas um pit bull de nariz vermelho, que já virou marca de roupas e acessórios e capas de caderno. Entrego os pontos, pode abrir a champanha (ou o champanhe, champagne, como queira). Venceu-me, com sua pena oblíqua e dissimulada, como diria o Bruxo do Cosme Velho. Descobri que gosto mais do seu estilo do que achava que gostava. Gosto de ser surpreendido. Até mesmo enganado, no bom sentido (?). Gosto de te ler. E espero que nossa correspondência virtual dure muuuuuuito tempo.
O melhor do seu texto, porém, deve passar batido pela maioria de seus leitores. É a natureza das “visitas” que você não mais recebe. Uma visita sem aproximação física, um flerte insistente do outro lado da rua, num canto da praça. Uma visitação por controle remoto. E se agora você não mais recebe visitas, quer dizer – corrija-me se analiso errado – que não se deixará capturar pelos olhares de cachorros, papagaios fujões, gatos, hamsters... e homens? Por esse, mais do que pelos outros motivos, amei seu texto". Celso Moraes Faria
"Querida Clara, como vou ler sua crônica, se você não recebe visitas? Li sua crônica. Você está mil, cada dia melhor, não; cada dia excelente. Gostei imenso" José Fernandes
ResponderExcluir"Oi amiga, leio com especial prazer suas crônicas. Seu texto é alegre, brincalhão e bem feito. Parabéns. Sou seu fã de carteirinha". Alirio Oliveira
ResponderExcluir"Sempre romântica, inquieta, mas, sempre buscando a magia poética através das asas da imaginaçao". Vanderlan Domingos