“Se eu quiser falar com Deus, tenho que abaixar a crista, tenho que seguir à risca o que o Gil me ensinou. Tenho que aguardar na lista minha vez, minha audiência. Uma vaca de paciência, ruminando meus pecados. Quando chegar a minha vez, tenho que soltar o grito. Pois daqui ao infinito, Deus não vai me escutar. Ele está ficando surdo, já não enxerga direito, constrangido e contrafeito com o mundo que criou.
Antes de falar com Deus, eu arrumo um pistolão. Pode ser Antonio ou João, qualquer santo de prestígio. Tenho que levar presentes: minha alma, meu delírio, a luz acesa de um círio que Ele está na escuridão. Se eu quiser, mas não quero, que esse Deus é prepotente. Ele é onipresente, só não está onde eu estou. Se quiser falar comigo, não atendo ao celular. Não deixo a mesa do bar, que esse chope está demais. Eu só vou falar com Deus, quando Ele matar a fome dessa criança sem nome que não para de chorar. Quando ele descer do céu e ver que cada menino, sem presente, sem destino, precisa de um beijo seu”.
Desça já daí menino Rey, que esse povo é gente séria. Se você disser que é poeta, sei não, sei não menino. Vai mesmo fazer estripulias no céu? É bem a sua cara – ‘Lagartixa escorregante na parede de domingo’... Sei não menino... Olha que essa gente ralha e não há cristo rogando o suficiente nas ‘Sangradas Escrituras’ que dê jeito.
Tem jeito não, menino. Desça já daí. Eu já disse. Não quero nem pensar no falatório que há de ser, se ‘Cantares Prazeres’ aí nas alturas. Sabe, essa mania musical que você tem de falar da vida, do amor e de ‘Paixão Segundo Barrabas’? Menino, toma tipo! Crie um modo de tornar essa filósofa ‘Poesia Abstrata’ em vísceras ‘Moleculares’ – pra ver se tem perdão.
Desça Rey menino. Desça logo, porque você ainda não terminou seus projetos. Cadê a poesia concreta? A cidade ‘Futura’, ecológica e socialmente correta que você sonhara para os arredores de Pirinópolis? E esse bando de artistas que você disse que moraria lá... Pra onde é que esse povo vai agora?
Vê se desiste dessa ideia tosca de escrever nas nuvens, pois quem há de poetizar as páginas que me antecedem no Diário da Manhã sempre às segundas-feiras? E agora, quem acreditará em tudo que você escreveu sobre minhas crônicas?
Ô Rey, para com isso. Pois não foi você quem disse que o que gera o medo não são as pontes interrompidas sem qualquer aviso, mas a queda repentina do horizonte? Então, menino, desça já daí. Está certo que Manoel de Barros descobriu que a quinze metros do arco-íris o sol é cheiroso – mas não precisava, Rey. não precisava mesmo, ir pra lá agora.
Sei não, acho que você ficou de ponta cabeça... Vai mesmo construir poéticas prosas em terras celestiais? Sei não, Rey... Sei, não... Mas quando essa gente ler seus versos, decifrar seus traços e conhecer sua alma... sei não... mas acho que não deixarão você voltar.
Reynaldo Jardim deixou marcas em muitos... Deixou-as em mim também. O Rey vive para sempre!
Sei não, acho que você ficou de ponta cabeça... Vai mesmo construir poéticas prosas em terras celestiais? Sei não, Rey... Sei, não... Mas quando essa gente ler seus versos, decifrar seus traços e conhecer sua alma... sei não... mas acho que não deixarão você voltar.
Reynaldo Jardim deixou marcas em muitos... Deixou-as em mim também. O Rey vive para sempre!
"Reynaldo Jardim foi, e sempre será gênio criador, um artista revolucionário, alucinante: aquele que liderou e/ou influenciou os líderes das grandes revoluções artísticas do século 20, tanto na poesia, como, e principalmente, na imprensa brasileira" Alisson Sbrana.
Reynaldo Jardim (São Paulo, 13 de dezembro de 1926 — Brasília, 1º de fevereiro de 2011)1 foi um jornalista e poeta brasileiro.
Reynaldo Jardim (São Paulo, 13 de dezembro de 1926 — Brasília, 1º de fevereiro de 2011)1 foi um jornalista e poeta brasileiro.
(Publicado no Diário da Manhã - Goiânia Goiás em 07/02/2011)
" Clara Dawn: a jovialidade adulta de seu texto criativo revela uma escritora que causaria inveja a Clarice Lispector..." Reynaldo Jardim - Jornalista e poeta - publicado em 11/10/2010 no jornal Diário da Manhã.
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