Uma menina em algum lugar da estrada. Uma estrada. Aquela que apesar de não me lembrar direito, um dia já passei por ela. Uma passagem. Talvez, voragens de um caminho deixado para trás antes mesmo de chegar ao seu fim. Um fim... coisa estranha é essa lembrança do início quando se sente que o final bate à porta. Uma porta aberta e tantas janelas: olhos pequenos demais guarnecendo paredes dantescas de um mundo gigante visto por frestas.
Mas, e a menina ali na estrada? Não sei ao certo se indo ou vindo. Não posso afirmar de que prisma a vejo. Contudo é bem certo de que a vislumbro com dedos velozes de ânsia poética. Ela não sabe que daqui a pouco será eterna em tranças de ‘Arial 12’, pois tenho os olhos nas pontas dos dedos e se os perder nunca mais escrevo. Acredite, minhas histórias são sentidas e contadas pelo tatear dos dedos meus.
Por isso tateei a menina, a estrada, a passagem (com suas voragens) o fim, a porta, as janelas e o mundo. Ah! O mundo visto por meus dedos é fabuloso! E a garota? O que faz ali na estrada com o olhar mergulhado no asfalto quente da hora quinze? O seu sorriso se esconde dentre lábios travados enquanto ela caminha: indo e vindo - depois se fixa ao chão. E fixar lhe parece bom, pelo menos, isso lhe desnuda os dentes fracos num riso assimétrico.
Despidos estão também seus raquíticos joelhos e a inocência de seus gestos, embora camuflados pelas voragens daquela estrada onde fora lançada por precedentes.
Estrada carroçável, essa ali. Mas, uma estrada poderia ter tantos signos! Essa ali, onde a menina se fixa, meus dedos tateiam-na, carroçável. Poderia, por Deus, ser uma bela estrada: daquelas que se iniciam na porteira de uma casa com “tudo” dentro. É uma pena, um pesar... Esses meus dedos tatearem a menina na realidade de uma passagem carroçável.
A passagem fora tateada enquanto a menina colocava o peso infante de seu corpo para uma das pernas, mostrando a leveza tímida de seu joelho outro: ali, em algum lugar da estrada de onde começa o seu fim. E o fim chega quando a menina descola de seu fixo e entra numa carroça eletrônica. Daquelas que são guiadas por animais irracionais. Desses tantos em frente às portas.
Ah! A porta! A porta que está sempre aberta. Quando foi que ela se abriu? A porta daquela menina lhe abriu tão cedo. Meu Cristo, por quê? Quisera eu tatear um jeito de fechar essa porta definitivamente. Quisera eu, nunca mais mostrar aos meus dedos aquela menina fixa na estrada, debruçada em suas diminutas janelas. As Janelas? Lembro-me bem agora: olhos pequenos demais guarnecendo paredes dantescas de um mundo gigante visto por frestas.
Pelas frestas e tão somente por elas, pode-se enxergar um Homem. Alguém que certamente perambula pelas gentes, como se gente fosse. Dessas “Dantes” que guarnecem o mundo.
Claro! O mundo – tateei-o redondo. Tão redondo que desejei encestá-lo.
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