Meu querido Arthur, esta é a primeira vez em que eu lhe escrevo, de um modo direto, desde que você partiu. É que está chegando o dia do seu aniversário, 26 de junho, e eu quero lhe prestar uma homenagem, como sempre o fiz desde que você nasceu. Mas este ano não será um café da manhã na cama repleto de guloseimas e um presente oxidável.
Este ano não vou repetir os chavões de bençãos e orgulho; não vou chorar no seu abraço porque você estaria ficando mais velho e logo sairia de casa; não vou comprar-lhe um celular ‘irado’ ou qualquer outra parafernália eletrônica que lhe prenderia um pouco mais dentro de casa; não vamos passear pelas ruas de Goiânia, à toa, à toa, e depois sentarmos num lugar qualquer para rir de quem vive à toa pela cidade...
Este ano não vamos assistir filmes a noite inteira e largar, no chão da sala, a caixa de pizza; também não haverá sermões intermináveis, na hora do almoço, sobre compromisso social, honra, bom exemplo, futuro, sexo, drogas e blá, blá, blá...
Não. Este ano não há uma única coisa que eu possa lhe ensinar, porque desta vez a aprendiz sou eu. Benevolência. Benevolência foi o que você me ensinou. Uma benevolência tamanha que se transborda de mim e, só por isso, hoje eu vou chorar. Não é de tristeza, meu filho, é de benevolência...
A sua indelével bondade para com o grande mal que lhe aconteceu. Inesquecível: i – nes – que – cí – vel. Inesquecível o seu olhar terno diante de tanta, tanta, tanta dor: resignado... longânimo. Jamais esquecerei de toda a benevolência expressa em seu olhar, no último dia em que nos vimos, quando você, com suas asas de anjo, me ergueu do chão num último abraço. Ao me lembrar disso tenho vontade de outra vez abraçar você e pedir que fique um pouco mais, porque no dia 26 de junho de 1993, ao nascer você, nascia eu.
Sabe, meu filho: meu melhor amigo, meu parceiro de gargalhadas, meu primogênito; este ano eu só quero agradecer. Agradecer a Deus por ter escolhido a mim para ser sua mãe e permitir que você vivesse vinte anos ao meu lado. Agradecer pelo privilégio de ter convivido com você todos os dias; por você dividir comigo os seus sonhos; os seus poemas; os seus sorrisos; a primeira batida do seu coração, o primeiro soluço, a primeira refeição, a sua infância; a sua primeira palavra; o primeiro dente a nascer e o primeiro a cair; a construção da sua primeira pipa; a primeira pedalada de bicicleta; a primeira fase de Super Mário World; a primeira vitória no Karatê; o primeiro beijo, o primeiro 10 com estrelinhas e a primeira nota vermelha...
Obrigada pela grande lição de bondade para com os erros do outro; bondade para com os próprios erros, pois viver é, como nos ensinou Freud, um processo mental muito doloroso e é preciso ter compreensão e magnitude para com aqueles que se refugiam em ilusões. Porque conviver é mais difícil do que viver... é mais difícil lidar com vida do que com a morte. Então, é com benevolência que eu perdoo você. Perdoa-me, com benevolência também, e felizes 20 anos, para sempre, meu filho.
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