Harmoniosa
mesmo é essa palavra: har – mo – ni – o – sa! Com exclamação para ficar preguiçosa
e assim... Não gostei porque rimou e com isso perdeu a harmonia. Há na Terra
coisa mais valiosa do que a harmonia?
Pobre
disco que gira, gira, gira e gira no sentido horário, sabendo de antemão que
chegará o momento de parar. Depois de tocar um repertório inteirinho com todas
as suas letras ora dançantes, ora melancólicas, ora poéticas, ora ridículas,
ora hora: hora de enfim... Há na Terra coisa mais triste do que “parar de
tocar”?
Será
que “parar” é mais triste para a vitrola ou para o vinil? E um tem sentido sem
o outro? A completude de um ser nunca estará na solidão. Ainda que a criatura
seja unimúltipla, ainda que queira, jamais será completa sendo uma. Olho para a
desdita vitrola sob a maldição de ser apenas um adorno. Olho para o infeliz vinil,
que sem a carícia da agulha, mantém, em silêncio, versos cantantes, e penso, há
na Terra coisa mais insuportável do que a incompletude?
Eu
estou incompleta. Não completamente, eu juro. Há outros discos aqui, bem
debaixo do meu nariz, que cantam melodias risonhas e compreensivas. Canções
azules e cheirosas que inebriam a minha alma e tocam-na com a terna
responsabilidade de manter-me na roda da vida. Há na Terra coisa
mais importante do que a certeza de ser útil?
De
repente eu não consigo mais conduzir este texto com o mesmo estado de espirito
com que comecei... Enfado-me. Ergo o olhar para ver o quanto escrevi: se já
está suficiente para preencher a minha coluna semanal e vejo que é necessário
mais um pouco. O que é uma pena, pois eu já estou com náuseas por causa destas palavras que não
farão diferença alguma se publicadas ou esquecidas. Há na Terra coisa mais
estúpida do que a vaidade?
Melhor
é ouvir minhas canções azules vindas dessa Pequena criatura que agiganta a
minha existência... Canta, minha Pequena, canta.
(Publicada no jornal Diário da Manhã - DMRevista - Goiânia - Goiás em 11 de agosto de 2014)
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