terça-feira, 6 de março de 2018

Mudar o que se é para se adequar ao outro não é altruísmo, é autodestruição


Mudar o que se é para se adequar ao outro não é altruísmo, é autodestruição. Amar alguém demasiadamente, ao ponto de fazer infindas concessões para satisfação do outro em detrimento da própria satisfação, é falta de amor próprio.

É engolir a própria vida que lhe matará de dentro para fora: primeiro o esôfago, o estômago, o intestino e depois os rins e o coração. E você não compreenderá por que mesmo tendo um biorritmo saudável, ficou doente. Mas é sua vida, seus sonhos, seus anseios, suas perspectivas, seu amor próprio, sua autoestima, seu eu autêntico… que estão fazendo um “coquetel molotov” dentro de você. E tenha certeza, uma hora ou outra, vai explodir de um jeito catastrófico.

Amar verdadeiramente, é deixar livre. É não cobrar aquilo que deveria ser espontâneo. É claro que não existem relacionamentos perfeitos. Se alguém busca por uma união perfeita, colorida, divertida, onde tudo se encaixa harmoniosamente… é melhor comprar um jogo de lego.

Relacionamento é feito de duas pessoas é uma construção em comum acordo – uma via de mão dupla. Porque reciprocidade não deve ser uma obrigação. Antes é um fator de sintonia. Se não acontece num instante, não acontecerá numa vida inteira juntos.

Todavia você jamais conseguirá construir uma relação sadia e harmoniosa se tentar – em vão – unir pessoas de energias opostas. Sendo assim, lute contra a vontade insana de mudar o outro. A sincronia – nos ensinou Carl Jung – é a única forma dos pares encontrarem as felicidades fluídas de ambos.


Conheço gente que sonhou com uma cobertura e se casou com o primeiro andar, depois passou a vida inteira tentando transformar o primeiro andar em cobertura e quando enfim conseguiu, não deixou a cobertura esquecer que um dia foi primeiro andar. É claro que isso é só uma metáfora cabotina para a nossa compreensão de que energias opostas não se atraem, se destroem. Não tente mudar o outro, não se perca de si mesmo para se adequar ao outro. Decida ser quem você é e vibre em sua própria sintonia. Creia, alguém com a mesma energia vai lhe encontrar.

Mesmo porque – “in natura” – a gente não deixa de ser aquilo que é. Num tempo agimos de modo adaptável, e talvez inconsciente, por receio de perder o objeto de desejo. Aí chegamos a acreditar que mudamos mesmo. Mas, num dia qualquer, o verdadeiro eu explode e a gente volta a cometer as mesmíssimas falhas de convivência.

Porque o homem tem por natureza a incompletude. Já profetizou Malaquias que os olhos do homem jamais se fartam ainda que creiam que fartos estão. Porque somos bichos instintivos, porém escravizados por estigmas da civilidade. Se tirar do homem tudo o que as civilizações lhe emprestam em termos de convivência social, não haveria progressos, deveras, e tampouco escravidões.

É maravilhoso ter para quem voltar no final do dia. Mas lembre-se, só se for para os abraços do seu maior fã. É comum desejarmos a companhia de alguém, a afetividade bilateral. Quem não quer? Eu então, ô! Eu estou sempre com fome de afeto. Sofro por não ser correspondida à altura quando insisto em unir energias opostas. Aí fico com os olhinhos lagrimejados de um não sei o quê – do tipo – poxa vida!

A gente recebe o amor que julga merecer. Eu aprendi praticando que é melhor viver sozinha e se sentir um sucesso ainda não encontrado, do que numa duo vivência que lhe induz a crer que você é um fracasso em termos gerais.

Texto de Clara Dawn
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