A mulher chorando de Pablo Picasso - 1937 |
Tenho me repetido tanto
nos últimos meses que a minha literatura está mais para “A Lagoa Azul” nas Sessões
da Tarde da Rede Globo. Acho desrespeitoso para com os meus reincidentes
leitores que vão às bancas comprar o jornal todas as segundas-feiras, (dizem),
só para ler minhas “garatujas”.
Mas perdoem-me o
autoplágio semanal. É que tenho me sentido um tanto quanto enjoada: basta olhar
para folha branca que logo um gosto acre me vem à boca. Não é o ato em si que
me causa esse mal-estar quase insuportável. É o luto – efeito colateral –
co/lateral... Que coisa!
Não há um único
raciocínio cognitivo que eu consiga desenvolver sem que eu sinta uma forte
“tensão intracraniana” – como se os pensamentos comprimissem o meu cérebro de
um modo dolorosamente enfadonho.
Não quero escrever
prosa alguma. Não há em mim vontade de inventar histórias ou narrar
metaforicamente o meu conceito dialético sobre a existência do parafuso... Não
quero. Quero gritar todos os palavrões e todas as asneiras que a minha pudica
educação permitir. Posso? Quero, ao
menos uma vez, brigar com Deus e dizer que eu pensei ter ouvido um riso irônico
quando pedi para Ele realizar o sonho do meu filho de receber o Prêmio Pritzker
de Arquitetura. Posso? Isso a minha educação não permitiria mesmo. (Não farei
nada disso. Meu grito é sob as águas do chuveiro porque elas levam as fraquezas
do meu espírito para o esgoto).
Mas talvez eu tente
‘poemizar’ a minha vida, pois é mais fácil transitar pela realidade mergulhada
no lirismo do que simplesmente viver. É isso que eu tenho feito - escrever uns versinhos para a fase de elegia
ao filho morto:
Descobri que o silêncio
é palpável
tem cheiro, textura e
gosto.
Descobri-o nessas coisas
que pertenceram a você
e que agora você
pertence a elas.
Descobri que esse
silêncio é visível e belo...
[como uma borboleta sem
asas].
Mas, e esse sorriso que
ainda tens na face? É de troça?
Terá sido a transposição
de teu ultimo reflexo?
Não alcanço no silêncio
desse riso - o pensamento –
o que tiveste no
instante em que vozes imaginárias ou só por ti audíveis
atinaram-se a
mostrar-te uma paz em forma de branco lençol...
Não concebo que o teu
sorriso, vedado por um nó na garganta,
tenha se transformado
em epitáfio.
O tempo passa, mas não
passa tempo algum.
E é nesse tempo que passa
correndo sem sair do espaço
que tento ajuntar
letras ambíguas
sobre toda essa
benevolência expressa [como sempre] em seu olhar;
sobre suas asas de anjo
que [no último abraço] ergueram-me do chão...
Espero que um dia você possa
perdoar-me por não conseguir entender
Sua ânsia de pássaro em
livrar-se [cedo demais] da gaiola da vida.
Parabéns Clara! parabéns pela força q msm com toda sua dor vc tem pra seguir em frente, não tem como emocionar com sua palavras e não sensibilizar com sua dor. Espere no tempo de Deus, ele é contigo e vc uma filha amada dele.Fique com ele, fique em paz.
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