Tem
pensado no futuro ultimamente. Ocorre com o futuro o mesmo que com a distância.
Ei-la, à distância, adiante: um horizonte qualquer, longe, misterioso...
desconhecido. Uma enorme janela aberta -
barreira simples a impedir que uma ânsia passional salte para além daquele
quadrado, a fim de transpor colinas e caminhar em planícies. Desejou, ah!, como
desejou atravessar a janela e saltitar sobre gramíneas, vencer a distância e...
como desejou entregar todo o seu ser para se substanciar num grande e magnífico
sentimento...
Mas,
oh, céus!, correu sobre as gramíneas ressecadas, saltitou por entre os outeiros desnudos, deslizou em planícies secretas e... quando lá chegou, quando o longe se fez
perto... quando o futuro se fez presente – nada se alterou –, apenas um vazio
renovado preenche sua pobre alma, e, assim, se encontra com as mesmas misérias,
com os mesmos e estreitos limites, e de novo o seu espírito deseja o mesmo
bálsamo que acabara de se esvair.
Assim
o turbulento vagamundos é como uma corça que suspira por aguas distantes, enquanto no
regaço de sua cabana, do lado interno da janela, em meio aos frutos do seu pomar, nos cuidados
que tem para com os seus, existe, afinal, o deleite do grande e magnífico
sentimento que em vão procura.
Mas,
qual! O vagamundos, no afã de preencher o vazio interior, é biruta. Uma biruta,
treme, gira, sobe forte, desce fraca e voa/presa na direção do vento – o
destino certo está realçado e o vagamundos o sabe muito bem –; e... gira, e
sobe uma vez, e desce outras tantas, sabendo de antemão que o seu destino é o
vento, mas o vagamundos, totalmente
biruta, vaga por mundos e mundos.
A
culpa é do vento. Sim, do vento. Se o vento não fosse, digamos, volúvel, uma
biruta jamais seria uma biruta e não serviria para coisa alguma... Coisa
difícil de julgar é, mesmo, o “se”. Mas se o vento, digamos, não fosse volúvel
e instável, e ainda traiçoeiro, não haveria distância... O mar vomitaria as
garrafas com as cartas de amor no dia e na hora certa, os voos não seriam
cancelados, os barcos não ficariam à deriva...
Outrossim, o vagamundos permaneceria na quietude de sua
substancial motivação de viver, no seu futuro controlado e previsível. Sua alma, enfim, teria paz... uma paz tão
absoluta... uma paz tão... tão... tão... pachorrenta que o vagamundos
desejaria, ainda que por cinco minutos, vivenciar uma desgraça qualquer.
Algo que lhe desse motivos para ir... Sim, apenas ir.
Sabe-se lá para onde, tampouco o que fazer, mas haveria de ser algo que lhe causasse
um tremor, uma terrível inquietação, uma suspeita medonha de que a vida é coisa
inútil... Algo, assim, que lhe mostrasse que existe, porque existe – sim,
existe!, pensa ele – basta atravessar
aquela janela para se defrontar com um sentimento grande, magnífico, fabuloso... estupendo... Sim,
deveras. Logo ali, do lado de fora da janela.
(Publicada no jornal Diário da Manhã - DMRevista - Goiânia -Goiás em 13 de agosto de 2012)
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